sexta-feira, 20 de abril de 2012

O TESTEMUNHO DOS ANTIGOS – parte 1 - 1/6


Aos Hebreus 11:1-2
O culto que hoje dedicamos a Deus objetiva firmar os marcos que os nossos antepassados, em suas jornadas cristãs, firmaram. É a recomendação do sábio em Provérbios 22.28 e 23.10. Não apenas não remover os marcos antigos, mas mantê-los fixos, é a responsabilidade de nossa geração. Em Setembro de 1972, quando o Pastor Ebenézer Gomes Cavalcanti transmitiu a mensagem no meu culto de formatura, na Faculdade de Direito da Universidade Católica de MG, não podia prever que aquela memorável mensagem me exigiria um retorno 39 anos depois. Pastor Ebenézer marcou a vida dos formandos, professores e líderes da Universidade ao ler em latim 1 João 2.1-2 e anunciar solenemente o tema da sua mensagem: Advocatum Habemus.
Ainda hoje ao reencontrar colegas de curso e professores, eles relembram a mensagem transmitida naquela memorável noite, no templo da Igreja Batista da Graça. Pastor Ebenézer, com apenas uma mensagem, deixou marcas que o tempo não consegue remover.
Seu testemunho prevalece na vida de suas ex-ovelhas, que com alegria promoveram um culto em celebração ao Centenário de seu nascimento. Porque o testemunho dos antigos permanece? Há algo diferente nesses heróis da fé que desafia-nos à reflexão e à necessidade de imitarmos seu exemplo. Há uma força interior a dominá-los que os leva a colocar o ideal de vida acima da própria vida. Seguem o exemplo de Paulo ao ser questionado sobre a validade de correr risco por uma causa. O apóstolo diz que estava disposto a tudo, pela verdade abraçada em Cristo (At 20.24).
O Pastor Ebenézer foi batista por convicção e deu o seu melhor à denominação. Em Julho de 1963, quando a denominação experimentava um embate doutrinário, ele escreveu: “Quanto a mim, sou batista. Creio como batista. Penso como batista. Ensino como batista. Trabalho como batista, para que os homens se tornem batistas!”.
A denominação se ressente hoje de líderes como Ebenézer. Ebenézer soube tratar e conviver com os que não pensavam como ele. Temos um belo exemplo disso em uma de suas crônicas publicada em O Jornal Batista em 2 de Outubro de 1952. Ebenézer havia pronunciado discurso no parlamento, aqui na Bahia, opondo-se ao culto às imagens. Cita de cor uma frase do padre Vieira quanto ao culto às imagens. O padre Sales Brasil critica o discurso com a frase do padre Vieira, dando a entender aos leitores do jornal “A Tarde” que a citação não era verdadeira.
Ebenézer responde chamando-o de “meu amigo padre Sales Brasil”, transcrevendo parte do longo sermão de Vieira, pregado na capela real em 1655, no terceiro domingo da quaresma. Nele, Vieira repete sete vezes a frase: “Não louvo nem condeno”, usando o texto de Isaías 44 com destaque para o versículo 19, que o grande pregador apresenta em forma de parábola para descrever a loucura da criatura que tenta materializar o Criador numa imagem de madeira. Daí a expressão “Não condeno nem louvo, admiro-me com as turbas. “Et culmirate sunt Turbas”, a expressão latina. Ebenézer conclui com a pergunta do padre amigo: “Logo Vieira? Sim, até Vieira”.
Dialogar e conviver com homens assim significa ser abençoado, mesmo quando persiste diferença de opinião. Na divergência preserva-se o respeito e a admiração pelo adversário. Estamos em falta de apologistas, que trilhem o caminho palmilhado por Ebenézer, que firmado em convicções inabaláveis, podem repetir a expressão do apóstolo Paulo, enquanto aguardava no cárcere o machado do carrasco: “Não me envergonho do Evangelho de Cristo, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até o dia final” (2 Tm 1.12).
Ebenézer não tergiversava com a verdade abraçada e crida na sua meninice. Órfão aos seis anos, passou a receber os cuidados e ensinos da avó. Crente fiel, ela levou o neto, ainda adolescente, a um encontro com Cristo como Salvador e Senhor. Ebenézer vivenciou a história bíblica de outro grande homem de Deus, testemunhada pelo apóstolo Paulo em 2 Timóteo 1.5. Foi esta fé transmitida todos os dias ao anoitecer ao garoto Ebenézer, pela cearense Rita Nunes Nogueira, natural da Serra do Baturité, que moldou o caráter do neto, elevando-o aos páramos dos heróis da fé.

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